Amos Gitai: Modos de fazer e usar
Quem assistiu ao episódio Modernidade, do longa coletivo Bem-vindo a São Paulo (2004), produzido pela Mostra, percebeu a sensibilidade de Amos Gitai para com a arquitetura. A partir dos corredores sombrios do hotel Holiday Inn Anhembi, à beira da Marginal Tietê em um dia cinza, o cineasta ensaia fazer um filme-síntese sobre a cidade. Filme que, no entanto, não chega a editar, talvez pela sua falta de tempo, talvez porque a cidade não comporte uma síntese. Mas a náusea que percorre o seu curta-metragem inacabado sobre São Paulo, rodado dentro do saguão de um aeroporto, é o avesso da paixão que vemos na série Arquitetura em Israel. Entrevistando um conjunto expressivo de arquitetos, escritores, historiadores e políticos israelenses, Gitai aborda temas variados, ligados sobretudo à construção residencial no país.
Filho de Munio Gitai Weinraub, arquiteto alemão que estudou na Bauhaus e trabalhou com Mies van der Rohe, colaborando decisivamente para a importação da arquitetura racionalista europeia para Israel antes mesmo da sua criação, em 1948, Amos se graduou arquiteto em Haifa e se doutorou na Universidade da California, Berkeley, também em arquitetura. Lá, estudou com Christopher Alexander, matemático que se tornou urbanista, incorporando a linguagem dos padrões como uma sintaxe para a arquitetura. Alexander inaugurou práticas participativas de projeto e construção não apenas no campo da arquitetura, mas também do urbanismo, apontando para caminhos distintos do planejamento moderno. Esse assunto é trazido à tona de forma interessante no episódio Construir e destruir, em que o cineasta entrevista o arquiteto Israel Godovich, que como Ministro da Habitação nos anos 1970 inaugurou práticas colaborativas de construção para os conjuntos de moradia social em Israel.
Os programas atravessam temáticas não apenas eruditas, mas também cotidianas, como a vida no bairro yemenita de Jerusalém (Bukharan). Em A cidade branca, Gitai conversa com Micha Levine, discutindo o imenso patrimônio de arquitetura modernista à la Bauhaus presente na cidade de Tel Aviv. O que está em questão é a própria construção do estado de Israel, sua história e identidade, além de um tema edipiano para o cineasta-arquiteto. Informado e inteligente, Gitai consegue levar as conversas para campos não convencionais, favorecendo uma reflexão aberta sobre esses processos. Preocupado tanto com a instância do projeto quanto com a dimensão do uso dos espaços arquitetônicos e urbanos, Gitai propõe pensamentos que se afinam muito ao projeto curatorial da X Bienal de Arquitetura, que tem como tema Cidade: modos de fazer, modos de usar.
Arquitetura em Israel será exibido através de três programas independentes de curtas-metragens, divididos da seguinte forma e nas seguintes sessões:
PROGRAMA ARQUITETURA EM ISRAEL - CONVERSAS COM AMOS GITAI (93 min.)
27/10 - 14h: CCSP - SALA LIMA BARRETO
31/10 – 16h: CINUSP
PROGRAMA LUGARES E ESPAÇOS SAGRADOS/ ARQUITETURA COMO HISTÓRIA (137 min.)
27/10 – 16h: CCSP - SALA LIMA BARRETO
29/10 – 16h: CINUSP
PROGRAMA ESPAÇOS DE VIDA/ OUTSIDERS (143 min.)
27/10 – 18h45: CCSP - SALA LIMA BARRETO
30/10 – 16h00: CINUSP
Título original: Architecture in Israel (Conversations With Amos Gitai)
Ano: 2012
Duração: 371 min.
Gênero: Documentário
País: Israel
Cor: cor & PB
Direção: Amos Gitai
Depoimentos: Walid Karkabi, Hubert Lu-Yon, Yuval Yasky, Muki Tsur, Nachum Zolotov, Meir Ben-Dov, Ada Karmi-Melamade, Amnon Rechter, Dan Benaya Seri, Dan Eytan, Diana Dolev, Dov Elbaum, Mussa Hujierat, Amnon Levine, Israel Godovich, Zvi Efrat, Micha Levine
Roteiro: Amos Gitai
Montagem: Yuval Or, Dan Tapuach, Isabelle Ingold, Mira Bauer
Produtor: Michael Tapuach
Produção: Hamon Productions, Israel Educational Television