2020
O ano de 2020 ficará marcado pela Covid-19 e pelas consequências que a pandemia nos trouxe. Contra todas as previsões que o número nos inspirava na virada do ano, 2020 tem sido um tempo de luto, de introspecção e reflexão.
Da China, que foi tão falada este ano, veio também a arte da 44ª Mostra Internacional de Cinema, uma emblemática foto do grande cineasta Jia Zhangke, na qual um homem acende incensos para a estátua de WenQuxing, legendária divindade da literatura e da escrita. Jia também nos traz o documentário Nadando Até o Mar se Tornar Azul e o curta A Visita, em que a Covid é o principal personagem.
Coronation, do artista chinês Ai Weiwei, também aborda a Covid-19, por meio de imagens poderosas feitas clandestinamente em Wuhan. Já Abel Ferrara nos mostra a chegada da pandemia na Europa com o documentário Sportin’ Life.
Mas, para além da presença nas telas, a Covid-19 resta entre nós. Com as salas de cinema fechadas e com a incerteza ainda presente, a Mostra se viu forçada a ter a sua 44ª edição apenas on-line e em cinemas drive-in. Diferentemente de 2009, quando a Mostra apresentou sua primeira seleção on-line (o primeiro festival on-line do mundo!) com a ideia de possibilitar acesso a pessoas de fora de São Paulo, hoje a internet é o que nos possibilita a existência e também a presença da Mostra de maneira integral em todo o Brasil.
Então, esperamos que a Mostra seja um pouco como a fumaça do incenso que, em tantas religiões e cultos, simboliza o alento, a purificação e a cura. Porque a situação inusitada não prejudicou a seleção de 2020, que se insinua forte e surpreendente pelas nuvens e ondas da internet.
Como em todas as edições, a Mostra apresenta um vasto panorama do cinema mundial, com autores consagrados e novos realizadores. Na programação deste ano também apresentaremos títulos premiados em festivais como Berlim, Sundance, Tribeca, Toronto, Roterdã e Veneza, além de obras laureadas em alguns dos principais festivais de documentários do mundo.
Pela primeira vez, o Prêmio Humanidade será dado a um grupo de pessoas: os funcionários da Cinemateca Brasileira. Em um ano muito conturbado para a instituição, os seus funcionários mostraram um emocionante comprometimento com o nosso patrimônio e a nossa memória.
O segundo Prêmio Humanidade será dedicado ao mestre Frederick Wiseman pela sua obra monumental. Neste ano de eleições pelo mundo, ele nos presenteia com o filme City Hall e nos faz entender a diferença entre um político e um estadista; e também a diferença dos funcionários públicos imbuídos de sua verdadeira função, a de servidores públicos.
Já a produtora Sara Silveira receberá o Prêmio Leon Cakoff pela persistente e corajosa carreira de mais de 30 anos. Homenageada pela empreitada em revelar novos cineastas brasileiros, fazendo com que as vozes desses realizadores ecoem ao redor do mundo.
A 44ª Mostra também homenageia o cineasta Fernando Coni Campos apresentando três obras: Viagem ao Fim do Mundo (1968), Ladrões de Cinema (1977) e O Mágico e o Delegado (1983).
Mas a Mostra não será feita só de filmes. O Fórum Mostra completará seu quarto ano com uma versão virtual, que possibilitará a participação de convidados de outros países. Além disso, o mestre Ruy Guerra dará um curso on-line intitulado “A História do Cinema segundo Ruy Guerra”.
Agora, resta torcer para que o cinema, realizado ou falado, nos traga uma variedade de fumaças com diferentes perfumes e que, com eles, consigamos atenuar um pouco os males que nos afligem.
Agradecemos aos nossos parceiros e patrocinadores que, mesmo em tempos conturbados, permaneceram ao nosso lado.
Uma boa Mostra a todos!
Renata de Almeida