16 de outubro de 2025
“Com Hasan em Gaza”, de Kamal Aljafari

Obras que refletem sobre a realidade da Palestina estão presentes na programação da 49ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo. Por meio de diferentes perspectivas, ficções e documentários abordam temas como o cotidiano sob ocupação, a passagem do tempo e a busca por identidade, compondo um mosaico que convida à reflexão sobre as dimensões da luta e da vida palestina.
Propondo uma análise cinematográfica sobre memória e perda, o documentário “Com Hasan em Gaza”, de Kamal Aljafari, evoca uma Gaza do passado e vidas que talvez jamais possam ser reencontradas. O filme, vencedor do prêmio Europa Cinemas Label no Festival de Locarno, parte de imagens de três fitas MiniDV que registraram a vida em Gaza em 2001 e foram recentemente redescobertas. O material é um testemunho de um lugar e de um tempo que já não existem.
Também documental, em “Yalla Parkour” a diretora Areeb Zuaiter busca uma reconexão com o passado: ela visitou Gaza pela primeira vez na infância, quando teve seu primeiro contato com o mar. Essa lembrança, junto com o sorriso de sua mãe palestina, se tornou uma memória persistente em sua vida. A nostalgia por sua terra natal ressurge quando ela se depara com um vídeo de jovens praticando parkour nas praias de Gaza, no qual a felicidade deles contrasta com o barulho distante das explosões. Areeb entra em contato com eles e, neste filme, percorre o que sobrou de Gaza.
No documentário nacional “Notas Sobre um Desterro”, de Gustavo Castro, as filmagens do encontro com uma família brasileira-palestina na Cisjordânia em 2018 são revisitadas após 7 de outubro de 2023. O que era para ser um filme sobre as possibilidades de coexistência em uma terra ocupada, se transforma em uma brutal reflexão sobre colonização, apartheid, genocídio e a recente proliferação de imagens de guerra, produzidas pelas próprias vítimas de um massacre que se repete no curso do tempo.
Em “Quem Ainda Está Vivo”, premiado no Festival de Veneza, nove refugiados contam suas histórias: como eram suas vidas, os seus sonhos, o perigo e os escombros da guerra, a perda de pessoas queridas. Nessas existências que resistem, ainda não reduzidas a cinzas, ainda não mergulhadas por completo no esquecimento e na escuridão, os protagonistas de “Quem Ainda Está Vivo” tentam se reconectar consigo mesmos.
Entre as ficções em torno do tema estão os longas “Era Uma Vez em Gaza”, que rendeu aos gêmeos palestinos Arab Nasser e Tarzan Nasser o prêmio de melhor direção na seção Um Certo Olhar do Festival de Cannes, e “Palestina 36”, título com direção de Annemarie Jacir indicado pela Palestina para disputar uma vaga no Oscar na categoria de melhor filme internacional.
No primeiro, Yahya, um jovem estudante, faz amizade com Osama, um carismático e generoso dono de restaurante. Juntos, eles passam a vender drogas em meio as entregas de sanduíches de falafel, mas logo se veem obrigados a lidar com um policial corrupto. Já o segundo retrata vilarejos palestinos se insurgindo contra o domínio colonial britânico na primeira metade do século 20. Nesse cenário, Yusuf, que tenta construir sua vida para além dessa crescente agitação, se vê dividido entre sua casa na região rural e a inquietude de Jerusalém.