Documentário chileno “O Pacto de Adriana” ganha o Troféu Bandeira Paulista da 41ª Mostra
Na noite festiva desta quarta-feira (1º/11), o Cinearte abrigou a cerimônia de encerramento da 41ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, conduzida por Renata de Almeida, diretora da Mostra, e o apresentador Serginho Groisman, que anunciaram as obras premiadas desta edição.
O Júri —composto por Diego Lerman, Eran Riklis, Henk Handloegten, Luís Urbano e Marina Person— premiou com o Troféu Bandeira Paulista o documentário chileno O Pacto de Adriana, de LissetteOrozco.
“Embora seja um filme documental, é uma obra que traz valores dramáticos de ficção. Trata-se de uma história local e pessoal que tem uma ressonância universal, além de uma abordagem única para uma história que foi contada muitas vezes antes”, justificou Marina em nome do grupo a escolha dos jurados.
A diretora do longa-metragem, que esteve em São Paulo durante os primeiros dias da Mostra, enviou um vídeo de agradecimento. “Recebi a maravilhosa notícia de que ganhei a Competição Novos Diretores e esse reconhecimento me deixa honrada. Acima de tudo, quero agradecer ao público que foi ao cinema e que participou do debate maravilhoso após a projeção. Essa troca me fez crescer muito como pessoa. Estou feliz. Como profissional, [esse prêmio] é muito importante, pois a Mostra é um festival importantíssimo em todo o mundo”, disse Lissette.
O evento também serviu de palco para celebrar a cineasta Agnès Varda, que ganhou, além de uma retrospectiva durante esta edição, o Prêmio Humanidade. “Esperamos que os olhares diversos que apresentamos tenham colaborado para uma visão humanista. Porque essa foi uma das razões para a criação desse prêmio”, afirmou Renata de Almeida.
Varda, por meio de um vídeo, retribuiu a homenagem. “Eu adoraria estar com vocês em São Paulo. Sim, estou orgulhosa por receber o Prêmio Humanidade pela minha carreira especial. É bom continuar a fazer documentários e compartilhar a vida de outras pessoas”.
Os espectadores que circularam pelas salas de cinema no decorrer das duas últimas semanas também votaram em seus filmes preferidos. O Prêmio do Público de Melhor Documentário Internacional foi para Visages, Villages, de Agnès Varda e JR, que mandaram uma mensagem da França.
“Muito obrigado por esse prêmio, mal podemos acreditar”, falou JR. “Não fazemos filmes para ganhar prêmios, mas adoramos ganhá-los”, afirmou Varda, causando risadas na plateia. “Quando o público gosta do filme já é um pequeno prêmio”, concluiu a cineasta de 89 anos.
A animação Com Amor, Van Gogh levou o Prêmio do Público de Melhor Ficção Internacional. Wilson Feitosa, da distribuidora Europa Filmes, foi quem recebeu o troféu. “Obrigado, Renata, guerreira, que a cada ano prova mais a sua competência. Também quero agradecer ao público, em especial a quem votou”, disse. Os diretores Dorota Kobiela e Hugh Welchman providenciaram um agradecimento virtual. “Sabemos que há muita gente apaixonada por pintura no Brasil. Estamos tristes por não termos conseguido ir ao festival”, comentou Welchman. “É bom que eu esteja fazendo isso pelo Skype porque, de outro modo, eu estaria chorando”, disse Dorota.
Tudo É Projeto, dirigido por Joana Mendes da Rocha e Patricia Rubano, ganhou o Prêmio do Público de Melhor Documentário Brasileiro. No palco, Joana, que é filha do renomado arquiteto brasileiro Paulo Mendes da Rocha, protagonista da obra, destacou que o filme levou dez anos para ser feito. “Eu estou emocionada. Ainda bem que conseguimos terminá-lo porque conta a história de um senhor que fez 89 anos”, contou comovida.
O último Prêmio do Público, o de Melhor Ficção Brasileira, foi para Legalize Já. Os diretores Johnny Araújo e Gustavo Bonafé mostraram-se gratos pelo reconhecimento dos espectadores. “Queria agradecer ao Marcelo [D2] pela amizade que a gente tem e por ele ter me contado essa história tão bonita de dois meninos que eram invisíveis na sociedade e se fizeram ouvir por meio da música. É muito bom ser um prêmio do público porque a gente veio deste lugar”, falou Araújo. “A gente tem batido na tecla de que esse filme não é sobre a legalização da maconha. É sobre amor, é sobre as pessoas serem quem elas são, é sobre amizade”, terminou Bonafé.
O Prêmio da Crítica de Melhor Filme Internacional da 41ª Mostra foi dado ao longa francês Custódia “pelo rigor e pela precisão no desenvolvimento da tensão de uma narrativa que aborda com originalidade um tema incômodo e universal, a violência doméstica”, explicou o crítico Vítor Búrigo.
Xavier Legrand, diretor da obra, mandou um recado em vídeo: “estou triste por não estar com vocês nesta noite, mas feliz por terem gostado do meu filme, pois sei que a temática é dolorosa. Ao me darem esse prêmio, vocês permitem que o filme seja um objeto de curiosidade, que dê vontade de conhecê-lo e também de falar sobre um assunto tão importante”.
Visages, Villages foi lembrado mais uma vez na premiação. Desta vez pelos críticos, que ofereceram ao longa uma Menção Honrosa. A jornalista Maria do Rosário Caetano explicou o porquê da escolha: “é um fascinante roadmovie que busca e encontra, com humor e poesia, rostos e vidas esquecidos em vilarejos e portos franceses”.
Já o eleito para receber o Prêmio da Crítica de Melhor Filme Brasileiro foi Gabriel e a Montanha, de Fellipe Barbosa. Para a jornalista Flávia Guerra, a distinção do longa se deu “pela forma original de revelar um universo com olhar aberto ao novo e aos encontros. Pela habilidade de unir atores de formação e de vida e pela coragem de promover o diálogo entre as linguagens”.
Presente na cerimônia, Barbosa agradeceu. “Estou muito feliz de estar aqui para receber esse prêmio na véspera do filme estrear [a obra entrou em cartaz nesta quinta (2)]. Agradeço à minha equipe e ao elenco, que acreditaram nessa proposta insana de percorrer seis mil quilômetros na África e quatro países atrás do Gabriel [amigo de Barbosa que baseou a história do filme]. E é a ele que eu dedico”.
A Associação Brasileira dos Críticos, que premia o melhor filme nacional de um diretor em seu primeiro ou segundo longa-metragem, deu o Prêmio ABRACCINE para Yonlu, de Hique Montanari. “Por construir uma narrativa que busca soluções criativas em um esforço em se comunicar com o público jovem e abordar temas delicados, como a depressão e o suicídio”, disse o jornalista Orlando Margarido, vice-presidente da entidade, ao ler a justificativa do prêmio.
O ator Thalles Cabral, protagonista de Yonlu, comentou a láurea: “o filme foi muito especial por vários aspectos. O primeiro é que ele é inspirado em uma história real. O segundo por apresentar a obra do Vinicius e o terceiro por tratar de um tema delicado, que é o suicídio. Quando eu tive o primeiro contato com o roteiro, fiquei bastante encantado com a maneira sensível, poética, lúdica e responsável com que o Hique decidiu contar essa história. Espero que esse filme possa ajudar as pessoas, conscientizar, informar. A gente está em 2017 e ainda é um tabu falar de suicídio. Que a gente tenha mais afeto, preste mais atenção no outro e tenha mais empatia”.
PRÊMIO PETROBRAS DE CINEMA
Este ano, além dos prêmios tradicionais, a Petrobras ofereceu o Prêmio Petrobras de Cinema para o melhor documentário e a melhor ficção brasileiros. O vencedor entre as obras documentais ganhou R$ 100 mil e o ganhador entre as ficções levou R$ 200 mil —as quantias serão usadas para a distribuição dos filmes campeões.
O Júri composto pela montadora Cristina Amaral, os diretores Marcelo Gomes e Beto Brant, o jornalista Alcino Leite Neto e a cineasta Eliane Caffé elegeu como o Melhor Documentário Brasileiro Em Nome da América. Representando o grupo, Cristina justificou a escolha: “pela singularidade da abordagem de um relevante episódio da história do país e pela força de sua visão histórica frente ao atual desmonte do direito dos trabalhadores rurais”. Fernando Weller agradeceu: “queria dizer que eu fico muito honrado em receber um prêmio por esse filme, particularmente nesse momento histórico que estamos vivendo, em que parece haver uma espécie de nostalgia da ditadura misturada a uma série de esquecimentos muito oportunistas do caráter injusto da história desse país”.
Já o Júri que reuniu o exibidor Adhemar Oliveira, a diretora e roteirista Ana Luíza Azevedo, os roteiristas Carolina Kotscho e Di Moretti e o diretor Paulo Sacramento escolheu como o Melhor Filme Brasileiro de Ficção Aos Teus Olhos, de Carolina Jabor. Oliveira anunciou o vencedor, mas antes leu os motivos pelos quais a obra foi a preferida. “Pelas qualidades estéticas e dramatúrgicas sem abrir mão da complexidade de suas nuances e pelo desafio de trabalhar um tema urgente de maneira densa e perturbadora”.
“Ganhar um prêmio na Mostra é seríssimo. Queria dividir esse prêmio com um bando de gente porque esse é um prêmio de equipe”, agradeceu Carolina no palco.
FILME DE ENCERRAMENTO
Logo após a entrega dos prêmios, foi anunciado o filme de encerramento: A Trama, do diretor francês Laurent Cantet. No longa, Antoine cursa um workshop de verão em que ele e outros jovens têm como objetivo escrever um thriller com a ajuda de Olivia, uma escritora famosa. O processo criativo, porém, relembrará o passado industrial da cidade —La Ciotat—, uma nostalgia que é indiferente para Antoine. Mais preocupado com os temores do mundo moderno, o rapaz logo irá confrontar o grupo e Olivia, que parece ao mesmo tempo assustada e encantada pela violência do aluno.
Presente na cerimônia, Cantet falou um pouco com o público. “É a segunda vez que eu tenho a honra e o prazer de estar aqui. Fechar o festival com esse filme me deixa emocionado. Quero compartilhar com os atores a honra de estar aqui. Fiquei emocionado pela forma com que eles encarnaram esses personagens. O filme deve muito a eles, não somente pela qualidade da atuação, mas por toda a preparação deles. Sempre se diz que um filme é uma história coletiva, mas dessa vez é um pouquinho mais”, relatou o cineasta.
Confira a lista de vencedores da 41ª Mostra.
Assista aos vídeos de agradecimento dos vencedores que não estiveram presentes à cerimônia.