Jornal da Mostra

26 de outubro de 2014

Jia Zhangke recebe o prêmio Leon Cakoff na sessão de estreia do documentário de Walter Salles

Juri da 44ª Mostra
Juri da 44ª Mostra “Esse filme começou a germinar há sete anos, quando a Mostra realizou a primeira retrospectiva de Jia Zhangke no Brasil”, falou Renata de Almeida a uma plateia lotada no Cinesesc. Desse encontro, resultou o filme Jia Zhangke, Um Homem de Fenyang, dirigido por Walter Salles, e o livro O Mundo de Jia Zhangke, de Jean-Michel Frodon, organizado por Salles, lançado agora pela Mostra em parceria com a Cosac Naify. “Esse filme nasce de uma paixão comum”, disse Walter Salles antes da sessão. “Quando vi os filmes do Jia pela primeira vez, tive certeza de que estava frente a um cineasta maior, talvez o que melhor fale do seu tempo. Ele trouxe o cinema novamente para o coração do debate; se quisermos entender a China, temos que passar pelo cinema dele”. “Encontrei o Walter pela primeira vez em Berlim em 1998, e desde então se estabeleceu essa forte relação”, falou Jia Zhangke. Para ele, a relação que se estabeleceu ao longo do documentário vai muito além de seus filmes. “Ao longo desse percurso em Fenyang, o cinema ficou em segundo plano. O principal foi esse encontro entre amigos, e um reencontro comigo mesmo”. Após a sessão, sob aplausos, Renata entregou a Jia o prêmio Leon Cakoff. “Agradeço a Mostra de São Paulo e sinto muita falta do Leon”, disse o cineasta, comovido. No debate após a sessão, Walter, Jia e Jean-Michel Frodon esclareceram algumas questões sobre o filme e livro. “Me fascinaram esses filmes sobre sonhos não realizados; raras vezes vi personagens retratados com tanta delicadeza”, disse Walter, expondo sua relação com os filmes de Jia. “Esse documentário existe como gesto de um cinéfilo apaixonado, em quem os filmes de Jia continuam a ecoar”, completou. Para Frodon, o cinema de Jia Zhangke se situa num lugar muito particular dentro do cinema chinês. “Muitas pessoas tentam enquadrá-lo dentro das gerações do cinema chinês, mas não o vejo dessa maneira. Jia mistura o melhor do cinema moderno com o que acontece socialmente na China”. “Essa foi a terceira vez que vi o filme. A primeira vi em DVD, no meu escritório em casa, e nos primeiros dez minutos parecia que estava vendo a história de outra pessoa”, comentou Jia sobre o novo documentário. “Aos poucos então, foi acontecendo uma sensação de desarmonia. Eu ia lembrando de coisas do filme, dos lugares que eu tinha passado e que eu já havia esquecido”, completou. “A grande lição foi eu que não consigo me separar do cinema. Da próxima vez que eu pensar em desistir do cinema, vou rever este filme”.