OSCAR DE MELHOR DOCUMENTÁRIO TAMBÉM FOI POLITICAMENTE CORRETO
Ninguém se ateve direito à questão do prêmio de melhor documentário de longa-metragem para "Assassinato num Domingo de Manhã/ Murder on a Sunday Morning". O filme americano, com direção francesa de Jean-Xavier de Lestrade e Denis Poncet, foi produzido para a HBO e está anunciado para exibição direto na televisão este domingo às 22h30 na rede de pay-tv dos Estados Unidos. Pois este Oscar também se prestou a promover uma correção de rumos da Academia de Hollywood, uma espécie de mea-culpa na sua revisão histórica, frente a questões raciais e a participação dos negros na formação política e artística do país.
Foi um prêmio certamente político e voltado à questão social interna da América frente às tragédias desencadeadas com os atentados de 11 de setembro de 2001. A ponto de preterir o favorito de melhor documentário de temática simpática aos membros da Academia de Hollywood, a questão judaica, que recaía sobre "Promessas de um Novo Mundo/ Promises", de Justine Shapiro, B.Z. Goldberg e Carlos Bolado.
A rica cidade balneária de Jacksonville, na Flórida, está no foco do documentário de denúncia ao racismo na sua engrenagem policial. Jean-Xavier de Lestrade recebeu o Oscar citando o pacifista Martin Luther King Jr. sobre "uma América onde crianças não deveriam ser julgadas pela cor da suas peles e sim por suas personalidades." Lestrade concluiu o seu pensamento dizendo que "trinta e oito anos depois dessas declarações nós fizemos um filme sobre a história de um adolescente que foi preso e condenado só porque era uma criança preta andando na mesma rua onde havia sido cometido um crime".
O filme abre um sério debate sobre os preconceitos existentes na condução de investigações de crimes com suspeitas que sempre atingem primeiro a negros e membros de comunidades étnicas mais pobres. O documentário segue as evidências coletadas pelos dois defensores públicos que preparam a defesa do estudante colegial negro Brenton Butler, de 15 anos de idade, preso depois de ser identificado pelo marido de uma senhora de 65 anos, morta na sua frente com um tiro no rosto. Mary Ann Stephens, turista da Geórgia, foi assassinada no dia 7 de maio de 2000 do lado de fora do quarto de hotel de Jacksonville onde o casal estava passeando.
`O caso Butler` é examinado no filme através da evolução a um dramático veredicto de condenação e a sua surpreendente reviravolta um ano depois, mostrando como o preconceito racial pode conduzir as investigações e transformar uma pessoa inocente em suspeito número um em um caso de assassinato brutal. O material promocional do filme na página da HBO na internet é bem radical no seu julgamento sobre o caso e pede para ver "como gira a roda da justiça na América e como a polícia pode ser incompetente e corromper um sistema legal."
E um artigo de ontem o jornal de Jacksonville lembra que o menino precipitadamente condenado havia assinado a confissão depois de ser espancado na cadeia e que os dois xerifes da cidade haviam dado um importante passo ao prender os supostos e verdadeiros assassinos da turista e ao pedir publicamente desculpas ao menino inocente e à sua família. O jornal de Jacksonville esclarece que não foi por acaso que o ator também negro Samuel L. Jackson foi convidado para anunciar o vencedor da categoria de melhor documentário. É porque Samuel L. Jackson esteve recentemente em Jacksonville com John Travolta para as filmagens de "Basic", quando tomou conhecimento do dramático caso de julgamento do menino inocente.