Sobre o filme
Quando Charles Chaplin venceu o primeiro Oscar de sua carreira em 1929 por O Circo, o prêmio foi dado pela “versatilidade e genialidade em roteiro, atuação, direção e produção”. Chaplin teve a ideia para seu último filme mudo já imaginando o clímax do terceiro ato, no qual Carlitos caminha sobre uma corda bamba e é atacado por macacos – uma cena inspirada pelo trabalho de seu contemporâneo Harold Lloyd. A partir daí, ele construiu o resto da trama: Carlitos é perseguido pela polícia e acaba dentro de um circo. Ao entrar no palco principal, suas tentativas de fugir da lei acabam agradando o público, o que faz o dono do local contratá-lo imediatamente como uma atração. Quando Carlitos se apaixona pela filha acrobata do dono e um novo pretendente surge para ela, ele começa a tornar-se competitivo.
Muito da admiração que o longa de Chaplin recebe hoje não vem só da qualidade do resultado, mas também das histórias dos bastidores que tornaram a produção difícil e caótica. Chaplin e Harry Crocker, que interpreta seu rival, passaram um mês aperfeiçoando técnicas de equilíbrio sobre a corda bamba. As cenas que envolvem leões foram gravadas com Chaplin interagindo com leões de verdade, tornando bem real a expressão de medo na cara de Carlitos. Depois de semanas de produção, foi descoberto que o laboratório acabou acidentalmente danificando todo o material que já havia sido rodado. Chaplin na época também se divorciava da esposa Lita Grey, que ameaçava tomar posse dos pertences do estúdio. As filmagens foram suspensas por oito meses, e Chaplin escondeu o material que já havia sido rodado. Como se isso não fosse o suficiente, o estúdio sofreu um incêndio no nono mês de gravação, destruindo vários cenários.
O Circo foi lançado em janeiro de 1928, poucos meses depois de o cinema entrar na era do som com O Cantor de Jazz (1927), e tornou-se um dos últimos grandes sucessos do cinema mudo.
A nova trilha
Chaplin ignorou O Circo durante anos por causa dos problemas nos bastidores, nem sequer mencionando-o em sua autobiografia. No fim dos anos 60, quando o filme foi relançado, ele compôs uma nova trilha sonora, assim como fez com muitos de seus longas nos anos seguintes, insatisfeito com os arranjos originais. A trilha reflete as origens de Chaplin, que cresceu na época das atrações de circo e shows de variedades, repleta de música no estilo vaudeville. Um vocalista profissional foi contratado para cantar o novo tema dos créditos “Swing Little Girl”, mas o diretor musical Eric James achou que a voz do de Chaplin, que na época tinha 79 anos, daria um efeito melhor. O músico Timothy Brock supervisionou a restauração da trilha para ser tocada ao vivo durante seis meses entre 2002 e 2003, trabalhando com os manuscritos do Acervo Chaplin em Montreux, na Suíça. Esta nova leitura é apresentada pela 38ª Mostra, com cópia restaurada em projeção ao ar livre no Parque Ibirapuera – dando sequência às projeções históricas, no mesmo parque, do clássico Metrópolis em 2010, Nosferatu em 2012 e Noah, o Sábio em 2013. Com a exceção da voz do cineasta, que canta “Swing Little Girl” nos créditos, a trilha será apresentada ao vivo pela Orquestra Experimental de Repertório da Fundação Theatro Municipal de São Paulo.
Título original: THE CIRCUS
Ano: 1928
Classificação: Livre
Duração: 71 min
Gênero: Ficção
País: Estados Unidos
Cor: PB
Direção: CHARLES CHAPLIN
Roteiro: Charles Chaplin
Fotografia: Roland Totheroh
Montagem: Charles Chaplin
Elenco: Charles Chaplin, Merna Kennedy, Al Ernest Garcia, Harry Crocker
Produtor: Charles Chaplin
Produção: Charles Chaplin Productions, United Artists
Música: Charles Chaplin (adap. Timothy Brock)