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À beira da morte, um homem relembra seu passado: sua infância, sua mãe, a guerra, momentos pessoais, e também as coisas que contam a história da Rússia. Autobiográfico, O Espelho surgiu de um questionário em forma de diálogo que o diretor imaginou dirigir à sua mãe, a figura de maior influência em seus anos de formação. Mas o pai do cineasta, o poeta Arseni Tarkóvski (1907-1989), também tem forte presença na obra, com leituras de alguns de seus poemas em sua própria voz. Inicialmente, Andrei pretendia que sua mãe, Maria Ivánovna Vichniákova (1905-79), interpretasse ela mesma seu papel, que afi nal foi destinado à atriz Margarida Therekhova. Apesar das sucessivas escrituras do roteiro, o diretor decidia com o corroterista Aleksandr Micharin sobre o que filmariam poucas horas antes de subir ao set, levando consigo pedaços de papel rabiscados. Resultou uma quantidade imensa de cenas desligadas entre si e um dos maiores quebra-cabeças de montagem da história do cinema, que tomou um mês para ser resolvido. A mãe do cineasta detestou o resultado, aceitando-o somente muitos anos depois. A respeito da obra, Micharin lembra-nos de uma frase que ouviu de Tarkóvski durante a colaboração: “Posso fazer algo signifi cativo baseado em apenas três elementos: o sangue, a cultura e a história”. O roteirista afi rmou que “as três coisas foram violadas nos tempos da Proletkult (Cultura Proletária, 1917-1932) na ex-União Soviética, quando uma intelligentsia desaparecia para dar lugar a outra”, e que Tarkóvski foi “o primeiro a tentar fazer uma ponte entre essas duas culturas”. “Tarkóvski reestabeleceu os laços entre o passado e o presente e inoculou na cultura cinematográfi ca a qualidade do eterno”, registrou o colaborador do cineasta.