Sobre o filme
O namoro do cinema com a obra do bardo inglês William Shakespeare data dos primórdios dessa mídia. Como em seus primeiros anos de existência, na virada dos séculos XIX para XX, os filmes eram vistos como um entretenimento mundano, a indústria cinematográfica tentou imitar o teatro para elevar seu status cultural. Adaptar a obra de Shakespeare tornou-se então um dos maiores desafios de artistas da época, ainda mais pelos filmes, então, serem silenciosos e não passarem dos dois rolos de projeção. Os curtas que compõem esta coleção única foram recuperados do material raro que sobreviveu ao tempo, cópias em nitrato preservadas pelo British Film Institute’ National Film and Television Archive.
Algumas dessas cópias apresentam um belo e minucioso trabalho de colorização à mão, demonstrando a exuberante inventividade dos cineastas da época. Como elogiou o diretor Martin Scorsese: "O Instituto de Cinema Britânico (bfi) deve ser congratulado, pois oferece uma rara oportunidade de se assistir a esses belos filmes mudos, que hoje estão frágeis demais para serem projetados."
São ao todo sete curtas, a começar por Rei João (1899), do inglês William-Kennedy Laurie Dickson, a primeira adaptação cinematográfica de uma obra de Shakespeare da história. Completam a seleção: A Tempestade (1908), do também inglês Percy Stow, que conseguiu traduzir com rigor o espírito e o texto do escritor em apenas cinco minutos; Sonho de uma Noite de Verão (1909), dos americanos J. Stuart Blackton e Charles Kent, que conta com impressionantes efeitos especiais e é uma produção da Vitagraph, a empresa mais proeminente da era pré-Hollywood; Rei Lear (1910), do italiano Gerolamo Lo Savio, que apresenta colorido expressivo, pintado diretamente na película, e foi realizado na Film d‚ÄôArte Italiana, produtora dedicada a filmar peças de teatro com atores famosos; Noite de Reis (1910), novamente do americano Charles Kent, que é outra realização da Vitagraph e apresentou, no papel de Viola, uma das primeiras grandes estrelas do cinema, Florence Turner; O Mercador de Veneza (1910), o segundo trabalho na série de Gerolamo Lo Savio, que não conseguiu ser salvo por completo, mas tem opulência e externas reais em Veneza; e Ricardo III (1911), do inglês F.R. Benson, que apresenta a então renomada companhia shakespeariana de sir Frank Benson e é o registro literal da encenação teatral. Na ausência da palavra, elemento tão capital na obra de Shakespeare, esses curtas mudos serão exibidos com música ao vivo. Uma nova trilha sonora, de texturas ricas e oníricas, foi escrita pela pianista Laura Rossi, que estudou composição no London College of Music. Ela se apresenta ao lado do violonista Mike Outram e do Quarteto Portinari.
O quarteto de cordas é formado por músicos da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (OSESP): Matthew Thorpe e Simona Cavuoto, violinos, Peter Pas, viola, e Marialbi Trisolio, violoncelo. A exibição conta com um pequeno intervalo, que antecipa a exibição de O Mercador de Veneza.
Veja os horários no Programa de curtas - 1
Título original: Silent Shakespeare
Ano: 0
Duração: 88 minutos
País: Inglaterra
Cor: P&B e Colorizado, digital
Direção: CHARLES KENTF. R. BENSONJ. STUART BLACKTONLAURIE DICKSONPERCY STOWWILLIAM KENNEDY